Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos
afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o
cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi
suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não
distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei
para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a
minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes,
os homens presentes,
a vida
presente.
Carlos
Drummond de Andrade (Sentimento do mundo, 1940)
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