what's up, duck?...
o que há em mim é sobretudo cansaço
não disto nem daquilo,
nem sequer de tudo ou de nada:
cansaço assim mesmo, ele mesmo,
cansaço.
a sutileza das sensações inúteis,
as paixões violentas por coisa nenhuma,
os amores intensos por o suposto em alguém,
essas coisas todas ?
essas e o que falta nelas eternamente;
tudo isso faz um cansaço,
este cansaço,
cansaço.
há sem dúvida quem ame o infinito,
há sem dúvida quem deseje o impossível,
há sem dúvida quem não queira nada?
três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
porque eu amo infinitamente o finito,
porque eu desejo impossivelmente o possível,
porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
ou até se não puder ser…
e o resultado?
para eles a vida vivida ou sonhada,
para eles o sonho sonhado ou vivido,
para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
para mim só um grande, um profundo,
e, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
um supremíssimo cansaço,
íssimo, íssimo, íssimo,
cansaço…
Álvaro de Campos, 09-10-1934
Nenhum comentário:
Postar um comentário