segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

a um gato

a todos os gatos: pardos, furta-cores...



não são mais silenciosos os espelhos
nem mais furtiva a aurora aventureira;
tu és, sob a lua, essa pantera,
que divisam ao longe nossos olhos.
por obra indecifrável de um decreto
divino, buscamos-te inutilmente;
mais remoto que o Ganges e o poente,
tua é a solidão, teu o segredo.
teu dorso condescende à morosa
carícia de minha mão. Sem um ruído,
da eternidade que ora é olvido,
aceitaste o amor dessa mão receosa.
em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.

(Jorge Luis Borges, O Ouro dos Tigres)